8 de agosto de 2009

O Grande Amor


Alguém acendeu o cigarro e me disse para esperar 10 minutos.
Já eram quase 2 da manhã, mas, na verdade, isso não importa nem um pouco. Era de madrugada, um calor infernal em São paulo. Jurava que o Sol estava tentando roubar o lugar da Lua no céu. Tão quente, que a fumaça do cigarro saía em brasa. Quase que direto para dentro da minha boca.
Quanto tempo faz desde que eu atendi a porra do celular pedindo alguma explicação? Sempre existe um último pedido desse tipo. Aquela coisa toda que começa com um 'por favor' e termina numa ameaça de insanidade. Do tipo: 'Eu vou enlouquecer se você não voltar'. Ou então: 'Eu vou perder a cabeça se continuar desse jeito'. Amor e ódio, e ainda têm quem diga que não dá para ser ambiguo. Confesso que neste momento a gente só pensa em sair logo do meio do enrosco, dar um pulo, sei lá. Quem sabe se jogar resolva.
Os dez minutos estavam no começo de uma bateria nova nas minhas costas. Eu nem sabia o nome do cara com o cigarro entre os dedos. Só lembro da fumaça e era a mais fedida, do cigarro mais vagabundo que uma banca de jornal poderia vender. Eu estava louca - de novo a questão da insanidade - para pegar um táxi, um avião, carona num camelo, qualquer coisa que me tirasse daquele lugar. Não havia bebida nenhuma no meu esôfago e, apesar do ar de perdida no olhar, estava bastante careta. Eu sou careta. Só tinha perdido a linha por causa de um cara. Eu sei, eu sei. É essa a desculpa que as mulheres costumam dar. Mas eu tô aqui dizendo que foi ele quem me bagunçou, e pronto. Dei pra caramba. Dei desculpa de monte também. Vi o cara deitado, largado, bêbado na minha sala, no meu sofá. E sabe o que eu fiz? um café. Do jeitinho dele. Porque mulher quando fica com os joelhos no chão por um cara, aprende a cozinhar que é uma maravilha. O cara chega e a gente pergunta com voz baixinha: 'Quer que eu prepare alguma coisa pra você comer?'
Depois de um tempo a gente se irrita com a cara de mesmice do sujeito. Não dele, na verdade. Mas da situação. Tive um enjoo tão forte uma vez, que suspeitei estar grávida. Não. Era o perfume dele tomando espaço demais nas minhas roupas, no meu cabelo, na minha pele. Aí, ele nem percebeu, mas eu já estava pensando que era melhor a gente se separar. O futebol era o padre que iria nos abençoar se continuasse do jeito que ele queria que eu fosse. '- Menina, vem cá. Dá um beijo.' '- Vem pegar!' Eu já estava pensando, já estava premeditando o final.
Um dia a minha mala estava entreaberta na nossa cama, e a porta entreaberta na meia luz da tarde. Eu havia pensado em tudo, até no que não cheguei a viver com ele. E me deu uma saudade de perder o amor da minha vida. Não era medo. Era saudade mesmo. Rasgava o peito. Mas não dava pra ficar, não dava.
O que fez o zíper da mala fechar foi a ligação que chegou cansada e triste. Ele me dizendo que alguma coisa tava errada na gente. Que queria ficar sozinho pra conhecer outras pessoas. E eu dizendo que tava sufocada demais, num cheiro de perfume que não combinava mais com o da minha pele.
Hoje não resta amor nem ódio. É só aquele carinho com quem já foi uma estrada na tua vida. Ele foi uma estrada chuvosa, cheia de curvas e vento no cabelo. Uma aventura que só deixou de me fazer feliz, quando me fez pensar no que é felicidade. E o que eu mais gostava nele é a liberdade de não questionar nada.
Por isso, e por tudo o que ele me ensinou, é que, agora, no final destes 10 minutos, eu me despeço desse estranho cheio apenas de vazias intenções. Porque depois que a gente vive um grande amor, não aceita mais migalhas.

(Strawberry Fields)

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