23 de novembro de 2009

Olhos Armados e Itinerário.

Ela fala por mim:

"Eu estou com muito, muito medo de me desapontar com minhas palavras e com meu silêncio. Tremendo a sensação imatura de arrependimento que nem aconteceu. Chorando a seco ansiedade de corpo mordido. Sofrendo uma dor que não tem lugar nem permissão para existir. Que teimosamente invade meu sono e minhas atitudes de perda. Minhas atitudes de auto sabotagem e perda de equilíbrio com meu salto.

É domingo e eu choro uma ausência ridícula de certeza. Convicção - da minha parte - oscilando em luzes gastas de pisca-pisca. Aqui está minha dor e eu estou olhando-a como uma mãe que acaba de parir um risco impossível de ser deixado. Meu corpo já está aberto de sereno da madrugada e mãos espalhadas pelo corpo. Mas ainda assim tenho medo de acontecer e de não acontecer. De olhar para isto com um buraco no peito, de ser arrancada de mim mesma. Nas minhas atitudes de perda.

Mas encaro a verdade do que foi proposto por corpo e tesão avermelhado. Meu medo não é ser descoberta em círculos de pele e boca, mas de ser aberta com o tal rasgo para expor minhas experiências como troca e venda de um produto inconfiável. E o que eu sei, de tão profunda e desmascarada é que não há como voltar atrás com meu instinto de me entregar ao perigo. Entregar meu corpo como fonte de proposta para solucionar engarrafamento de emoções, acúmulos de inspirações, libertações de eu mesma para eu mesma.

Meu medo é arrebentar a cara num beijo de leve, mesmo que seja a coisa mais doce e, principalmente, a mais rápida. Me sinto a pena da asa de um anjo. Mas já voei o percurso do ínicio e não posso repetir a espessura do vento agora.

Agora eu já estou na roda, já fui aberta de todas as formas e não quero me afundar em mim mesma para não mostrar sentir. Que sentido seja falha, vergonha, vulnerabilidade. Pra puta que pariu com tantas regras de intensidades e texturas de eixo. É isso o que eu sou desde o começo e continuo lutando na batalha dos meus erros para não tentar acertar. Esfrego meu rosto na curva da paixão e por mais estranho que isso possa parecer, não saio do carro para evitar a colisão do ônibus que eu nem sei mais se vem. Se chega, se realmente chega em mim e me faz parar de falar.

Mas por enquanto, ainda com medo, armo meus olhos para aceitar realidade sem morrer de respiração intalada."



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"Não são textos de amores quebrados após uma queda da escada. Não são idéias cuspidas no espelho do meu quarto. Não são histórias postas em porta-retratos. Não são mãos acenando do ônibus na curva triste do esperar. Não são vícios descobertos, drogas alternativas, beijo no papel.

Sou eu, mais uma vez, e montanhas altíssimas de coisas que vejo desabrochar; sentimentos endurecidos para entalar na garganta, gestos de quem não consegue, não sabe, não quer demonstrar palpitações ou olhos vermelhos.

O mundo inteiro vai se embolando e eu só penso em assistir The Godfather antes de dormir. Meu desejo de voz vai virando sussurro na boca daqueles que amo. Se transforma em ‘a gente se vê’ por pura inconstância. Mentira. ‘Não vejo a hora de te ver de novo. Aliás, nem vai embora.’ Olho para eu mesma e me vejo contando estas letras para dentro de mim. Entrego o momento de ‘esperava que você dissesse’. E sou presenteada com aquele esburacado: ‘A gente se vê’.

E o que acontece é que eu estou falando de ter tudo embolado, vontades mordiscadas, verdades mortas a pauladas. Para ver alguém me dizer porque a gente escolhe a curva do ônibus do adeus. Não que isso seja um conto de amor e sexo no sofá, lábios molhados com a espuma do capuccino, eram três da tarde quando o vi pela última vez. Mas não. Não falo de esperar alguém voltar, de me despir para ver voltar, de dizer besteiras para enxergar volta e sinal naquelas notas sujas dentro da carteira. E se você me responder com um podre: ‘eu queria que fosse diferente’. Te direi as maluquices pelas quais me julga por prazer e vaidade. Te revelarei as armadilhas feitas para te pegar no pulo pulando para longe de mim, dos meus lábios de café e das 3 da tarde antes da rodoviária. Sim, eu terei que mostrar tudo mesmo sabendo que cortes e curativos e cortes não te fazem feliz. Abrirei os olhos para você, às 5 da tarde, porque parece que ainda dá tempo de não te ver entortar a cara para responder um podre: ‘já estava ficando tarde para te entender.’

Putamente entristecida, tremendo as mãos em pensar que não estou escrevendo um conto de ‘trepar com você sem sentir saudade depois.’ Eu viraria para o lado e discaria o número de outro se isso fosse possível, sem tuas mãos tão próximas e prontas para me fazer querer ficar. Desligaria percebendo o quanto teu corpo todo, tua alma toda, tua mente toda não estava, nunca esteve contentemente determinada a me fazer ficar com um tapa na cara de: ‘... Aliás, nem vai embora’. Só para me ver tremer também os lábios, como quando a gente vê uma menina chorar. E, pelo amor de deus, chorar de felicidade é não ligar para que cara você está e se fica bonita num ângulo contra luz. E debaixo dos lençóis eu diria que escrevo sobre tudo isso que você sabe que eu escrevo. E eu te daria um coração fora da porra de um copo sem álcool para entorpecer. E pra puta que pariu com tanto medo e tanto isso que me faz balbuciar letrinhas de afeto, frases boas diálogos sem finais. Sou mais o tudo pra fora. Como você mesmo citou: ‘mil maneiras de falar sobre a mesma coisa.’ Está aqui minha nova maneira de olhar no relógio; 16:45. O teu ônibus vai chegar com uma frase podre para nos matar ou com uma maluquice que eu adoraria repetir embaixo dos meus receios, embaixo das tuas olheiras de sono que atrasou para dar tempo de me ver. E eu estou aqui. Parindo coragens para te ver abandonar a escolha fácil do adeus."

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